O Lince – Estamos na residência da escritora Ruth Guimarães, em Cachoeira Paulista-SP, para uma entrevista exclusiva para o Jornal O Lince. Dona Ruth, muito bom-dia! Eu gostaria de começar fazendo um questionamento à senhora que é de praxe: Como começou essa ligação da senhora com o escrever, com a escrita, enfim, com a literatura de um modo geral?
Ruth Guimarães – Eu acho que isto vem da minha família. Meu pai tinha uma biblioteca, então, quando eu era bem pequena, eu já brincava com livro, já folheava livro. Quando eu estava na escolinha da roça, já lia os livros do meu pai, apesar de que ele tinha só o Machado de Assis e outros da mesma época, mas a gente lê o que tem, né? Lê o que pode. Li Monteiro Lobato. Monteiro Lobato foi o meu iniciante.
O Lince – Depois desse primeiro contato, o que levou a senhora a buscar um curso de Letras Clássicas, o que levou a senhora a buscar essa aproximação maior com a literatura? Teve algum fato marcante ou esses primeiros contatos com Machado, com Monteiro Lobato é que foram a provocação, o estímulo bastante para isso?
Ruth Guimarães – Eu tive mãe muito imaginosa e gostava muito de ler romance. Em Lorena, eu estudei no começo do ginásio em Lorena, e em Lorena havia uma família, Di Domênico, que alugava livros a 200 réis cada um, por oito dias, e como minha mãe gostava muito de romance, ela me mandava fazer uma assinatura e trazer uns quatro ou cinco livros pra casa. E aqueles livros corriam, mas eram livros assim: Delly... eu nem me lembro mais os autores... esses livrinhos pra moça, porque era isso que minha mãe lia, e eu lia também, mas, com a continuação de leitura, eu fui apurando a maneira de escrever, ficou fácil pra mim escrever. A prática né! Então, tendo prática de escrever, quando havia aula de redação na escola, a minha redação, ainda mais que eu contava com a imaginação da minha mãe que eu herdei... eu tenho muito imaginação... então, com essa prática de ler romance, eu fiquei com uma facilidade muito grande de escrever e quando havia aula de redação que a professora mandava escrever historinha, mandava descrever a sala de aula, claro que eu tinha uma provinha ou um trabalho diferente dos outros trabalhos por causa da minha prática. E aí as professoras se entusiasmavam e mandavam pro jornalzinho da cidade. Chamava-se “O Cachoeirense”. Então, com dez anos, eu escrevia n’O Cachoeirense (risos). Pena que eu não tenho, não guardei, não me incomodei com isso pra ver que porcarias que eu escrevia (risos).
O Lince – Para uma criança de dez anos, com certeza, tinha muita qualidade.
Ruth Guimarães – Pois é! Porque eu era constantemente solicitada pra escrever. Tinha um cantinho lá pra mim no jornal da cidade. E quando eu estudei em Guará, eu tinha uns treze anos, por aí, doze ou treze anos, aí eu escrevia pro jornal da cidade, porque eu fui aluna do professor Jerônimo de Aquino (graaande professor!), e ele me ensinou a métrica. Olha! Ninguém estava aprendendo métrica, só eu (risos). A minha vida foi orientada no sentido de escrever.
O Lince – Então, obviamente que estes contatos desde a família até a escola, escolas...
Ruth Guimarães – A escola me ajudou muito... porque me tirou da minha casa. Eu fiquei sem pai e sem mãe cedo e fiquei com a minha avó materna. Minha avó era caipira, mineira, contadeira de história. Veja como as coisas vão se acomodando. Quando as coisas têm que ser parece que tudo se encaminha nessa direção. Então, eu fiquei contadeira de história também, e contadeira de história tanto falando como escrevendo. Eu sou contadeira de história até hoje.
O Lince – E a partir daí, então, o contato da senhora com o mundo acadêmico e, por conseqüência, o contato com a literatura universal mais ampla, mais vasta. Como é que a senhora avalia essa formação acadêmica na definição dos seus rumos literários?
Ruth Guimarães – O que acontece é que toda gente que tinha contato comigo, contato com a minha família, o divertimento era me ensinar coisas. Cada um me ensinava aquilo que sabia e logo cedo eu peguei uma experiência grande nesse sentido e mudei a escolha de livros, aí eu pude escolher... aí não eram mais aqueles livros de moça, aquela literatura pra moça que era M. Deli e outros. Eu comecei a ler literatura mais séria. Mas literatura mesmo e não historinha.
O Lince – E a partir daí, quando que a senhora decidiu escrever o primeiro livro, escrever a primeira obra?
Ruth Guimarães – Eu não decidi escrever um livro não, o livro se escreveu sozinho (risos) porque eu escrevi uma coisa e outra, e quando eu fui para São Paulo, fui procurar os artistas. Veja só que atrevimento! Eu tinha dezessete anos, fui pra São Paulo, fui trabalhar, e gostava de escrever, e fiz uma visita a Abner Mourão do Correio Paulistano, defunto Correio Paulistano. O Abner Mourão leu o que eu escrevi, com aquele jeitão dele, botou os dois cotovelos em cima da mesa, da cátedra dele, de trabalho, e falou pra mim assim: “Foi a senhora mesmo que escreveu isso aqui?” Então aquele “mesmo” me esporiou, né? Claro que fui eu que escrevi, e considerei como um grande elogio: “foi a senhora mesmo que escreveu isto?” E publicou, e publicou...
E isto foi um estímulo porque eu falei: Se o grande Abner Mourão considera bom, então tá bom, então tá bom, então eu vou escrever, e continuei escrevendo.
O Lince – A gente vê também em todo o trabalho da senhora um grande apreço pelas traduções, especialmente Dostoiévski,...
Ruth Guimarães – ... eu ganhava o extra fazendo tradução do francês. Dostoiévski eu fiz do francês, de segunda mão... fiz Balzac, fiz Prosper Mérimée, fiz Oscar Wilde, fiz uma porção de traduções. Traduzi do italiano, traduzi do espanhol,...
O Lince – E desse contato com originais ou traduções a partir textos de “segunda mão”, a senhora foi costurando, alinhavando a sua própria forma de...
Ruth Guimarães – Muito mais fora da USP do que dentro. Muito mais. O Diaulas, da Cultrix, ele dizia pra mim assim: “Você que devia me pagar pra fazer a tradução para a editora, porque o que você está aprendendo aqui você não aprendia em nenhuma escola do mundo”. Pois é!
O Lince – E dessas traduções, desse trabalho fora da universidade, somado ao trabalho acadêmico, como a senhora definiria suas maiores influências literárias? Quais são os autores da sua predileção, quais são os autores que mais influenciam sua obra?
Ruth Guimarães – Bom, o que eu admiro mais e com quem eu concordo no total é Machado de Assis... Machado de Assis... não tem outro pra ele. Eu gosto do Mário de Andrade, por exemplo; gosto muito do Guilherme de Almeida, apesar de que eu não o considero um grande poeta, é um grande escritor de versos (risos)... tem uma grande música e uma grande beleza também, mas é pouco profundo, né? Ele é mais no ritmo do sambinha (risos).
O Lince – Há poucos dias, saiu na Folha de São Paulo, um artigo remetendo a uma pesquisa de um professor de uma universidade do Rio Grande do Sul comparando Machado de Assis e Borges e fazendo críticas bastante pesadas ao modernismo, a Mário de Andrade, a Osvald. Como é que a senhora vê os escritores modernistas no Brasil?
Ruth Guimarães – São muito bons... mas são muito bons. O maior de todos é o Mário. Eu fui aluna do Mário! Porque, quando eu escrevi Os Filhos do Medo... eu estava escrevendo Os Filhos do Medo e não tinha pra quem mostrar... e não tinha uma pessoa que me dissesse... que me dissesse alguma coisa, que fizesse alguma crítica contundente, uma crítica que fosse fundo do que eu estava escrevendo. Escrevi e não sabia se aquilo tava... se era bem assim ou se não era. Aí eu procurei o Mário e tive várias sessões com ele, ele se interessou muito, ele era uma criatura sempre disponível pra gente... e fez umas críticas dolorosas, mandou cortar, mandou jogar fora... (risos). E depois ele disse pro Fernando Góes que era jornalista e era amigo comum, dele e meu: “Sabe aquela menina”, porque eu tava com vinte anos ou menos, e ele falou: “Aquela menina sabe, oh Góes, ela reagiu à altura”. Isto, na fala do Mário de Andrade, foi um estímulo pra mim, foi um empurrão pra cima, e daí que eu fiquei mesmo pesquisadora e estudando folclore, sociologia. Fiz sociologia com o Bastidinho e curso pós na USP. Porque, sabe, eu tenho essa idéia de que quando a gente faz uma coisa, ou faz bem feito ou não faz. História de ligar Internet aí, e copiar, não dá certo. A gente dar opinião sem estar com uma base boa, também, é até um pecado.
O Lince – Temerário.
Ruth Guimarães – Temerário. Então, o que eu faço, eu faço bem feito, o mais bem feito possível. Quando foi pra escrever os livros religiosos, que eu escrevi para a Cultrix também, eu levei dois anos fazendo Teogonia, pra depois pegar o livro e escrever, que era pra dar uma súmula, um apanhado da religião ou de cada religião direito né, o que era. Então sabia o que era Pentecostes, o que é transubstanciação, o que é que faz a diferença entre o evangélico e o católico, mas não diferença de fé, diferença de conhecimento, por que a religião católica se apóia em Cristo sem discutir se Cristo existe ou não existe, ou existiu como homem ou existiu como Deus, mas a filosofia da religião.
O Lince – E como é que nesse evoluir da escritora Ruth Guimarães, como é que a senhora, didaticamente, colocaria as fases pelas quais a senhora passou. Que temário, que temática que, de certa maneira, foi conduzindo a senhora ao longo dessa carreira de escritora... dessa vida de escritora? O início, como foi? Que preocupações conduziam a senhora?
Ruth Guimarães – Eu tinha umas idéias a respeito da linguagem. Eu sempre gostei muito de discutir a linguagem dos autores. Então, eu via, por exemplo, Lima Barreto, um grande escritor, tem muitas idéias, ia fundo nos pensamentos dele, mas uma linguagem horrível... quer dizer, não era uma linguagem horrível não. Era uma linguagem muito boa, mas sem aquele aval do escritor que sabe escrever. Pegar Jorge Amado... Jorge Amado comove as pessoas, tem uma linguagem bonita... ele dá adjetivação... ele é um narrador muito bom... ele é um descritivo também muito bom, mas não sabe escrever. Então, ele prejudicou a perenidade dos livros dele. Daqui a cinqüenta anos, quem vai ler Jorge Amado? E assim: esta leviandade de fazer o que não sabe. E aí eu resolvi escrever sabendo o que eu estava fazendo, mesmo se não fosse o escritor aquela criatura de idéias, pelo menos a língua...
O Lince – A forma...
Ruth Guimarães – Isso mesmo, a forma. Por isso que eu entrei na USP, na seção de Letras Clássicas, para aprender latim, grego e português, três línguas mortas (risos).
O Lince – Desta primeira preocupação com a linguagem, com a adequação com a forma...
Ruth Guimarães – Então, eu queria escrever como se falava, mas não escrever como se falava à maneira do Guimarães Rosa. Briguei muito com o Guimarães Rosa, imagine que atrevimento! Mas eu dizia: “Guima, você não tem direito de cunhar palavras, de criar palavras, a palavra só existe se tiver um povo que fale, a palavra é povo. E você põe aí, por exemplo, o mato aeiouava. Muito bonita a palavra, muito engraçada também, mas não vale nada, quem vai falar essa palavra daqui pra frente? Só você. Nos seus livros, daqui a não sei quantos anos, esta palavra que está aqui não existe”.
O Lince – Acaba gerando um hermetismo...
Ruth Guimarães – É. E ele tem muitas assim desse tipo.
O Lince – A senhora acha que isso tornaria, então, a obra anacrônica, dentro de sua própria época?
Ruth Guimarães – Não, anacrônica não! Defunta. (risos) Palavra que não é de povo, é palavra morta. Esta história de ter uma língua universal. O inglês universal porque tem um monte de gente que fala. Usar o esperanto e aquele, o sânscrito. Ah! O que é isso? Não tem povo que fale, não existe O que existe é gente. Então, esse o meu sentido, a direção da minha escrita. E aí quando eu escrevi, eu quis escrever numa linguagem que ninguém tinha usado que era a linguagem valeparaibana. Qual é o escritor que escreveu o valeparaibano? Só eu. E eu tinha direito, primeiro, porque eu sou povo daqui, eu sou caipira, e, segundo porque eu tinha uma experiência grande da linguagem mais profunda, da linguagem que se usa pra rezar, por exemplo, da linguagem que se usa para amar, então, eu sou intérprete de uma língua que existe, que é o valeparaibano, e eu escrevi, em valeparaibano, e de Minas também, porque eu vim de uma fazenda de Minas. Não nasci lá, sou daqui de Cachoeira Paulista, mas eu vim de uma fazenda de Minas. Escutei aquelas conversas todas lá e pus no livro com a maior fidelidade possível, porque eu sou uma criatura, sou caipira, mas em cima do caipirismo, da caipirice, eu sou uma criatura estudada, trabalhada.
O Lince – De todas as obras que a senhora escreveu, que a senhora produziu, existe alguma de sua predileção? Alguma obra que mais tenha gerado encantamento, orgulho de autoria?
Ruth Guimarães – Olha, eu aprecio todas as minhas obras e aquelas que eu não aprecio, que eu não dou o meu aval, eu jogo fora. Já escrevi romance de duzentas páginas e joguei fora porque não me satisfez. E quando acabo de escrever um livro, não é meu mais, acabou, vai embora. Eu não tenho os meus livros. Agora é que os meus filhos estão colecionando. (risos)
O Lince – O que a senhora tem de trabalho recente é a série Macunaíma para crianças, é isso?
Ruth Guimarães – É a série Macunaíma para crianças. Tem um livro que estou escrevendo, faz tempo que estou escrevendo. Chama-se: Um tal de Zé. Um romance, mas um romance do comportamento do povo valeparaibano. Esse daí de vez em quando eu pego e escrevo e reescrevo. E também recente são as crônicas que estou escrevendo no Valeparaibano, toda quarta-feira escrevo uma, vou fazer uma coleção e publicar em livro.
O Lince – E já gostaria de deixar o convite aqui para senhora. Seria uma honra, para nós, tê-la escrevendo n’O Lince. É uma vez por mês só, mas...(risos)
Ruth Guimarães – Me dê os tamanhos, porque eu sou muito irregular nesta questão de medida. Uma vez escrevo demais, outra vez escrevo de menos. A minha imaginação não tem medida, não tem tamanho.
O Lince – E o jornal tem o tamanho de sua imaginação. O que achar que deve escrever, estaremos dispostos a publicar... E gostaria de fazer mais uma pergunta: agora, recentemente, a senhora, assumindo uma cadeira na Academia Paulista de Letras, poucos valeparaibanos tiveram essa honra de lá estar...
Ruth Guimarães – ... Poucos e bons. Péricles Eugênio,....
O Lince – Exatamente. Então, gostaria de saber qual é o sentimento, o que a senhora tem a dizer sobre esse reconhecimento de toda uma vida e de toda uma obra e desta possibilidade de estar representando o Vale do Paraíba na Academia Paulista de Letras?
Ruth Guimarães – E estou um pouco Cinderela. Uma coisa que acontece uma vez na vida, né, e quando acontece, se acontece. Foi muito bom.
O Lince – Como é o processo de escolha de um membro da Academia?
Ruth Guimarães – Geralmente a proposta é feita por um dos confrades, um dos membros. Eu já tive convites antes, quando eu era bem moça, por um acadêmico chamado Fernando Góes. Bem mais tarde eu tive convite por outro que é o Paulo Bonfim, o poeta, mas eu não tava pra Academia não, sabe! Porque prestígio não me tenta muito, e eu tinha a impressão que não ia fazer grandes coisas lá na Academia. O que que eu ia fazer lá na Academia? E também o meu estilo de vida não dava pra Academias não. Eu tinha muito compromisso, eu tinha muita complicação na minha vida. Trabalhava em dois empregos pra sustentar os meus irmãos, que eram os meus filhos ao mesmo tempo, porque eu criei os irmãos menores com a morte do meu pai e minha mãe. E não dava mesmo! Não dava tempo, não tinha tempo, não tinha maneira de conciliar as coisas e freqüentar a Academia, nem pensar, nem pensar. Agora eu trabalho bastante também, mas estou aposentada, chefio um Departamento de Cultura do município de Cruzeiro, sou funcionária pública de carteirinha (risos) Trabalho muito, trabalho muito! E este lugar na Academia, eu consegui porque eu sou muito trabalhadeira. Eu tenho uma religião que é mais ou menos a religião de São Paulo, São Paulo, o santo, e não São Paulo, o estado. O São Paulo dizia assim: “Aquele que não trabalha, que não coma”. Lapidar. Eu também sou assim. Acho que aquele que não trabalha, que não coma. Se no Brasil se trabalhasse mais, se fizesse a religião do trabalho, estava em muito melhores condições.
O Lince – Meu avô também tinha uma frase lapidar neste sentido. Ele dizia: “Quem não trabalha, não merece o prato que come”.
Ruth Guimarães – É a mesma coisa. Exatamente. Então, eu sempre trabalhei muito e sempre procurei trabalhar certo. Então, se eu tenho algum merecimento, eu devo ao trabalho.
O Lince – Existe alguma influência Durkheimiana, positivista, nesta visão, nesta religião do trabalho?
Ruth Guimarães – Não. A minha é a sabedoria popular (risos). A minha é a sabedoria do caipira.
O Lince – E falando um pouco em sabedoria do caipira. E essa ligação da senhora com o folclore, esse desejo de escrever sobre essa sabedoria. Isso se traduziu numa série de obras. Que obras são essas e o que a senhora buscou nessas obras?
Ruth Guimarães – Eu busquei o registro. Porque nós somos um país continental, com comportamentos diferenciados em cada uma das áreas e está tudo por fazer. Então, eu que estou aqui e que sei, e que sinto esta efervescência da cultura popular, achei que era meu dever fazer o registro e fazendo o registro eu faço o estudo. Estudei o folclore... também. (risos)
O Lince – Falando ainda em Folclore, nós tivemos em Aparecida uma representante do folclore na região...
Ruth Guimarães – ... a Conceição Borges...
O Lince – ...não, a Maria de Lourdes, irmã dela, que foi da Comissão Nacional do Folclore. A senhora chegou a conhecê-la? Teve algum contato com ela?
Ruth Guimarães – Elas são primas do meu marido. E eu fui colega do irmão delas... como é que ele se chama? Eu me esqueci o nome dele. Faz tanto tempo isso. Eu estudei em São Paulo, na Escola Normal Padre Anchieta, em 1935. Em 35, eu estava, em São Paulo, estudando. Então, eu andava...
O Lince – Teve que se virar muito cedo...
Ruth Guimarães – Eu tive que me virar muito cedo e não tinha muito apego assim a lugar nenhum não. Eu morava na casa do meu avô, aqui mesmo em Cachoeira Paulista, mas se fosse para ir fazer algum curso, alguma coisa em algum lugar, e o meu avô, não sei por que, ele tinha predileção por mim. Eu era a neta da predileção dele e, tudo o que eu queria fazer, ele permitia e eu quis estudar em São Paulo, ele deixou (risos)... Fui eu pra São Paulo (risos).
O Lince – Ainda bem que deixou!
Ruth Guimarães – Ainda bem que deixou. (risos)
O Lince–Pois bem! E a questão do demônio do subconsciente das pessoas. Como é que a senhora vê esta questão?
Ruth Guimarães – O problema estava no meu subconsciente. Eu morava numa fazenda... casarão... uma imensidade... tinha vinte e seis cômodos a casa. Um dos cômodos era um salão que dava para se fazer baile. Se faziam bailes lá na minha casa, e a minha mãe tomava conta lá da fazenda, morava lá meu pai também. Tinha quatro empregadas para poder gerir a fazenda. Tinha a cozinheira, a copeira, a arrumadeira,...
O Lince–E a faxineira?
Ruth Guimarães – Não, não, não era a faxineira. A faxineira vinha de fora. Não morava lá. E a outra era a lavadeira. A lavadeira se desdobrava em duas: era a lavadeira e a filha. Então, ia uma vez por semana, e uma vez por semana em casa se fazia uma espécie de mutirão para fazer doce. Então, se fazia doce em calda e doce em cacheta. E, nestes dias de descascar marmelo, descascar pêssego, figo... era dia de contar história. E o pessoal contava história de arrepiar.
O Lince–Na beira do tacho.
Ruth Guimarães – Não. Descascando fruta. Quando era a hora do tacho, não me deixavam ficar na cozinha, porque era uma mexeção de tacho. Tudo quente e gente correndo pra lá e pra cá... aquelas águas lá. Então, eles não me deixavam ficar. Porque também eu fui muito arteira, Nossa Senhora! “Dona Maria, tira a Ruth daqui que ela é muito arteira!” (risos) Eles não me deixavam ficar na cozinha. E com isto, eu me familiarizei com todo o folclore de horror, e o diabo era um personagem importantíssimo. Era o que aparecia em tudo. Eu sabia como é que a gente chamava o diabo, como é que entregava a alma pra ele, como é que tinha que rezar, como é que fazia invocação, as árvores que ele freqüentava – a figueira brava, a peroba. Então, isto foi ficando entranhado, isto foi se fazendo lá no meu inconsciente. Eu não acreditava em Deus, nem sabia o que era Deus, porque eu ainda não tinha tido nem catecismo e já sabia quem era o diabo. Então, eu tive um inconsciente moldado pelo demônio e eu tive que escrever um livro sobre o demônio para me ver livre dele. Só depois que eu escrevi este livro é que o diabo deixou de me incomodar, porque mesmo não acreditando, porque eu não acredito, mesmo agora, a religião não conseguiu repor o diabo no lugar... a minha religião... nem tenho religião nenhuma. Mas, o diabo ocupava um lugar muito grande e me dava ordens. Eu era apavorada... Entrar num lugar escuro assim... Se eu lembrasse que o diabo não gosta de escuro, não gosta de luz... então eu tinha aqueles pavores. Quase que foi um caso de internação.
O Lince–De psicanálise....
Ruth Guimarães – De psicanálise, não. De psiquiatria. (risos) É. Era apavorada. E então, como eu ainda tinha, mesmo na minha linguagem, de falar do diabo, contar a história do diabo, estava me incomodando. Aí eu escrevi Os Filhos do Medo e me libertei. (risos)
O Lince–E economizou uma série de consultas (risos).
Ruth Guimarães – Isso. E ficou um bom livro, porque é muito sincero. É muito vivo. Meu Os Filhos do Medo é muito vivo porque eu vivi todas as coisas lá.
O Lince – Como é que a senhora vê, hoje, essa relação das pessoas com a literatura, como é que a senhora vê, hoje, o brasileiro como leitor?
Ruth Guimarães –Eu não vejo o brasileiro como leitor (risos). Eu não conheço nenhum brasileiro leitor (risos). Eu leio livro à noite, mas não conheço ninguém que leia mais de dez livros por ano.
O Lince – Que indicações a senhora faria para quem quer realmente entrar em contato com a literatura de qualidade, com a boa literatura?
Ruth Guimarães –Que humildemente vá lendo estes livrinhos aí. Vamos ler o velho Machado, vamos ler o Mário de Andrade, vamos ler Lima Barreto, vamos ler Eça de Queiroz,...
O Lince – A senhora já falou aqui pra gente sobre a importância do trabalho. Eu acredito que essa seja talvez a grande receita para ser alguém bem-sucedido, faça o que fizer. Agora, além de muito trabalho o que a senhora sugeriria para aqueles que queiram, não digo se tornarem escritores, mas se aprimorarem no processo de escrever? Existe alguma dica que a senhora possa aproveitar da sua experiência pessoal?
Ruth Guimarães –A gente só aprende com os outros, né! Esta história de autodidatismo, isso aí é tudo balela porque, se a pessoa não sabe, como é que vai aprender consigo? Só pode aprender com quem sabe. Então procurar boas escolas. A boa escola. E trabalhar lá na escola com honestidade. Trabalhar sempre.
O Lince – A senhora também nos disse, quando chegamos, que já conhecia o Jornal O Lince. Agora uma questão muito pessoal, o que a senhora tem achado do jornal?
Ruth Guimarães – Ah, muito bem feito... muito bem feito. A gente vê que por trás d’O Lince está uma pessoa que pensa, que tem idéias. E a pessoa só tem idéias quando tem conhecimento. Antes de ter conhecimento, ter idéia como? É só uma repetência, né! A pessoa vive por procuração.
O Lince – Vou tomar isso como um elogio e estímulo!
Ruth Guimarães – E é. É. Gostei muito, aprovei muito, e estou acostumada a ver esses jornalecos por aí. Eu recebo muito jornal.
O Lince – E para concluir, Dona Ruth, gostaria que a senhora ficasse à vontade para fazer as suas considerações que, por ventura, o entrevistador, por ignorância, deixou de perguntar e a senhora gostaria de falar.
Ruth Guimarães – Perguntou bem. Eu falei sinceramente, falei à vontade. As perguntas foram perguntas que me deram ocasião de confessar (risos)... E isso também é um elogio.
Ruth Guimarães: Roteiro de Vida
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Nunca é demais se lembrar da querida escritora Ruth Guimarães, um símbolo da literatura brasileira pela originalidade e pela força de expressão. Um ícone cultural vivo que representa e resgatar os usos e costumes da região valeparaibana. E assim, é interessante ressaltar rapidamente um pouco de suas ideias, no sentido de chamar atenção sobre sua produção literária e sua contribuição para a história. Numa publicação de março de 2008, da Revista Negras Palavras, edição nº 2, produzida pelo Museu Afro Brasil, a escritora explicita sua maneira peculiar de entender a literatura e como produz suas obras através de sua visão e experiência das coisas. Um jeito de Brasil interiorano, com refinado tom de especialização e inúmeras marcas de um passado que transcende ao pouco o nosso conhecimento sobre a região. Chamam atenção no depoimento, dentro do projeto “Roteiros de Vida”, dois pontos importantes e intrinsecamente ligados com a história. O primeiro deles sobre a língua portuguesa e o segundo sobre o seu posicionamento frente ao conjunto de sua obra. A autora é enfática ao alertar sobre a necessidade de aprender bem a língua pátria, recomendado aos novos escritores algumas atitudes fundamentais para o exercício da literatura. Diz Ruth: “se alguém vai escrever um livro, que leia os bons autores, que assista aos bons filmes, que converse com gente que sabe falar [...] emocionalmente a pessoa tem que estar apta”.
Ou seja, é fundamental para aquele que se aventura nos mundos das letras conhecerem as diversas produções culturais da humanidade, como forma de conhecer as mais diversificadas linguagens. O português expresso e escrito corretamente é condição expressa para transmitir ideias compreensíveis para o público, através de uma linguagem fluída, independente do estilo. Sobre a produção literária e sua relação com o público leitor e a educação no Brasil a escritora dá sua opinião, reverberando verdades incontestáveis:
“nós brasileiros estudamos literatura de uma forma desorganizada; a gente ler o que quer .... os professores dão um texto aqui, outro ali, nada sistematizado, com um sentido e programação. Quando chegamos ao fim [...] temos uma formação mista; assim como somos um povo mestiço [...] a nossa literatura também é toda feita de pedaços de textos, de arrumações aqui e ali. Não há nada que nos torne inteiriços, inteiros.” E arremata “ como eu sou brasileira, nesse sentido de brasileiro todo um pouco para lá, um pouco para cá [...]” (p. 41) E finaliza destacando a necessidade de uma literatura negra, chamando a atenção para a necessidade de que é preciso conhecer a raiz negra de onde viemos e que a história negra está por fazer, e que está pesquisando e tentando fazer um fabulário brasileiro, não somente entre negros, mas entre o povo (p. 42). Sobre sua obra prima “Água Funda”, diz ser a obra o resultado dos acontecimentos na vida de cada um. E sublinha: “o que deu magia ao meu livro foi a minha atitude diante da vida. Isto é a minha magia” (p. 42). E a “ideia que eu tive [de] escrever de um jeito que os outros não estavam escrevendo”. O resultado segundo ela, um livro de “linguagem mais simples, mas sem perder a estrutura do portugues” (p. 43). Somente pelas poucas ideias aqui destacadas se vê a profundidade de seu conhecimento; o seu discernimento e a sua conduta diante da vida e da literatura. Não é preciso dizer mais nada.
Referência: MUSEU AFRO BRASIL. Dois dedos de prosa. In: Negras Palavras, ed. 2, mar. 2008, p. 40-44.

A Missão de Ruth
Coube-me a incumbência de apresentar a autora do prefácio deste livro. É minha mãe, uma mulher simples na origem e no trato. Mas um fenômeno na clarividência, na sagacidade, no entendimento do outro. Criada em fazenda, filha do administrador, preferiu sempre a companhia dos mais pobres, dos desvalidos, dos esquecidos. Participou de sua miséria e de seus mistérios.
Órfã muito cedo, foi morar na capital de São Paulo aos 17 anos, levando a reboque quatro irmãos menores, que educou, preparou para o mundo e emancipou. Às custas de extraordinária perseverança e sacrifício, cursou Letras Clássicas na USP e entregou-se ao ofício de escrever. Publicou o romance “Água Funda”, aclamado pela crítica, em 1946. Foi aluna de Mário de Andrade. Privou da amizade de grandes nomes da literatura, como Guimarães Rosa, Lygia Fagundes Telles, Osman Lins, Marcos Rey e muitos outros.
Casou-se com o primo José, formando a mais terna parceria que tive a honra de conhecer e que é modelo para a minha vida.
Mas Ruth, nascida da tragédia, enfrentaria outras tantas. A filha mais velha, de inteligência brilhante e alma de artista, foi vítima de esquizofrenia; morreu aos 20 anos. O segundo filho, Rubem, em depressão profunda, suicidou-se aos 20, um ano depois da morte da irmã. O terceiro filho, Antonio José, apresentava sintomas que na época os médicos não souberam identificar – deram diagnóstico de retardo mental, e ele percorreu como aluno o Instituto Pestallozzi e a Apae. Não lhe trouxeram benefício algum. Padeceu de nefrose e morreu, em meio a grande sofrimento, com 19 anos. Morria um ano depois de Rubem.
Eu sou o quarto filho. Minha mãe costuma me brindar com a antonomásia de “o quarto filho muito amado, em quem deposito todas as minhas esperanças”. Mas ela sabe que o presenteado sou eu, por ter tido a felicidade de ser filho dela.
Depois de mim vieram outros: Judá, com a mesma sintomatologia de Antonio José; depois Marcos, Rovana, esta também com traços do que os médicos chamaram de retardo, Olavo e Júnia.
Meus pais viveram em sobressalto. Antonio José, Judá e Rovana foram desenganados pelos médicos. Os augúrios eram de que morreriam antes dos sete anos, previsão prorrogada para a idade de doze, depois de quinze, depois de vinte.
Progressivamente, foram apresentando surdez, retinose pigmentar e disfunção renal. E eram praticamente mudos, em decorrência da surdez.
Quando Judá contava vinte e oito e Rovana vinte e cinco, usavam aparelhos de surdez e óculos especiais, mas pioravam, devagar e inexoravelmente. Por essa época descobrimos, com a ajuda do Centro de Genética da USP, que ambos eram portadores da Síndrome de Alport. Pesquisas médicas indicam que a síndrome de Alport é causada por uma mutação em um gene do colágeno. É um distúrbio muito semelhante à nefrite hereditária e geralmente está associada à presença de surdez nervosa e anomalias oculares congênitas, como de fato observou-se nos meus três irmãos. É uma ocorrência considerada rara, numa razão estatística de duas pessoas acometidas para cada 10.000. Rovana, de certo modo, teve relativa sorte, comparando-se com os irmãos, porque o distúrbio costuma ser brando em mulheres.
Começava nova maratona de Ruth e José. Deixarei que ela mesma conte, no prefácio deste livro, o que pensava.
Antes, preciso comentar que meus pais estabeleceram um tratamento caseiro infalível para os filhos, todos eles. É a terapia do passeio. Não havia mau humor nem manha que resistisse à sempre nova frase do “vamos passear?” Oupaquiá, como os três portadores da síndrome diziam, em sua pronúncia irregular. Talvez que, aos seus ouvidos pobres, a prolação da palavra estivesse correta. Podia ser que a palavra fosse bem formulada, na cabeça deles, e, por causa da sua articulação torta, o resultado fosse diverso. Nós outros é que não sabíamos, quem sabe?, ouvir direito o que eles falavam. Por exemplo, pronunciavam banena e não banana, patata e não batata. A má pronúncia podia ser fruto de uma impossibilidade física. Curiosamente, a pronúncia defeituosa resultou em quase a mesma fonética nos três irmãos malfalantes. Talvez tenham aprendido uns com os outros os segredos para uma comunicação suficiente e criaram assim tipicidades. Ou seria traço da síndrome comum aos três?
Apenas preciso completar que, a despeito de toda a atenção que os filhos demandavam, Ruth conseguiu publicar mais de 50 livros, de contos, pesquisas folclóricas, traduções do francês e do latim, e peças de teatro. Foi professora de língua portuguesa durante 35 anos em colégios estaduais. E ainda conseguiu tempo de fazer o curso de Dramaturgia e Crítica Alfredo Mesquita. De produzir reportagens para a Revista Quatro Rodas e Revista do Globo. E escrever, por anos e anos, crônicas nos jornais Folha de S. Paulo e ValeParaibano. E de integrar o Conselho Estadual de Cultura, ao lado de Inezita Barroso. E de promover exposições de manifestações folclóricas. Aos 88 anos, assumiu a Secretaria de Cultura de sua cidade natal, Cachoeira Paulista, para onde retornou, depois de aposentada; cumpriu a função por dois mandatos.
Há cinco anos é imortal da Academia Paulista de Letras, e não falta às reuniões de quinta-feira, seu compromisso semanal que faz questão de honrar. Mesmo com as dificuldades de locomoção que os 93 anos de idade lhe impõem.
Perdeu Judá em 2010, de falência renal. Perdeu Rovana em 2011, de falência renal. Não perdeu, porém, a coragem e a força. Levou até o fim a missão de cuidar de todos nós, especialmente dos portadores da Síndrome de Alport. Que mais ela haverá de enfrentar, ninguém sabe. Se depender de nós, os filhos que restamos, colherá amor. Às braçadas.
Joaquim Maria Botelho
Filho e jornalista
Imagens em Movimento: Ruth Guimarães Botelho, uma mestra na arte de contar histórias
SYLVIO DO AMARAL ROCHA Em noites de tempestade, daquelas bem barulhentas, é que nasce o Sacy. Ele é chocado por sete anos dentro dos gomos do taquaruçu e fica setenta e sete anos no mundo. O Sacy não morre, vira orelha de pau, aquele fungo que cresce nos troncos das árvores. No dia 21 de […]
SYLVIO DO AMARAL ROCHA
Em noites de tempestade, daquelas bem barulhentas, é que nasce o Sacy. Ele é chocado por sete anos dentro dos gomos do taquaruçu e fica setenta e sete anos no mundo. O Sacy não morre, vira orelha de pau, aquele fungo que cresce nos troncos das árvores.
No dia 21 de maio de 2014 as madeiras do vale do Paraíba se encheram de orelhas de pau. Ruth Guimarães Botelho morreu — ou se encantou, como costumava dizer.
Professora, tradutora, escritora, pesquisadora e contadora de causos, Ruth — ou melhor, dona Ruth — ensinou para muitos a arte de contar histórias. Falava com propriedade, fazia pausas em momentos perfeitos e compunha a narrativa com seu corpo inteiro. Depois de escrever Água Funda, Filhos do Medo e tantos outros livros, chegou a vez Calidoscópio – A Saga de Pedro Malazarte, no qual estão 130 histórias do anti-herói pesquisadas durante 10 anos.
Tinha uma receita infalível de como colher bons causos. “Não chegue pedindo para que te contem uma história”, dizia. “Conte uma primeiro. Os que pensarem que você é louco, irão embora. Os que têm histórias para contar, vão se aproximar e dividi-las com você”.
Formada em letras clássicas pela USP nos anos 40, conviveu com Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Antonio Candido, Silveira Bueno e José Paulo Paes. Teve Roger Bastide como orientador e, em 2008, passou a ocupar a cadeira número 22 da Academia Paulista de Letras.
Muito conhecida no Vale do Paraíba, são poucos os que a “descobriram” na capital. Uma pena. Alguém como ela tem a capacidade de melhorar os que estão ao seu redor. Com uma generosidade ímpar, doava seu conhecimento e seu tempo para compartilhar e difundir a cultura nacional.
No Brasil, professor é maltratado e, caipira, tido como bobo. Dona Ruth se apresentava como professora e caipira — e assim pedia para ser tratada. Tinha orgulho dos dois.
São raros os documentos em vídeo nos quais dona Ruth aparece. Uma entrevista ao Programa Todo Seu, de Ronnie Von, em 2011, alguns pequenos vídeos disponíveis no YouTube e o documentário Somos Todos Sacys, de 2005, que dirigi com Rudá K. de Andrade.
No filme, o depoimento de dona Ruth é o guia condutor, responsável por dar graça e profundidade ao mito. Vale a pena ver esta grande mulher fazendo o que sabia de melhor: contar histórias. Dona Ruth vai fazer muita falta.
FLIP em Paraty
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